domingo, dezembro 16, 2007

Flávia, Vivendo em Coma

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Esta é uma Blogagem Coletiva proposta por Odele, a mãe de Flávia, uma menina que está em coma vigil por quase 10 anos causada por um acidente quando ela teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina do prédio onde moravam, no bairro de Moema – Zona Sul de S.Paulo. Flavia estava com 10 anos. Odete luta na justiça desde então.

Todo este post teve origem no blog Flávia, Vivendo em Coma, mantido por sua mãe, que me autorizou a pesquisa. Obigada, Odele.


O início:


Aconteceu assim:

Dia 06 de Janeiro de 1998. Quatro horas da tarde e fazia muito calor. De férias de meu trabalho na HP, eu lia um livro na sala quando Fernando e Flavia em trajes de banho, me disseram que estavam descendo para a piscina. Morávamos no 8º. andar da Av.Juriti, 541 em Moema – S.Paulo. Fernando faria 14 anos em Abril, Flavia acabara de completar 10.

Meus filhos estavam acostumados a nadar naquela piscina, que media 7,10m por 6,40m com profundidade média de 0,95m, perfazendo um volume de água de aproximadamente 43 m3. Flavia sempre foi uma menina grande para sua idade. Em pé, em toda a extensão da piscina a água lhe chegava um pouco abaixo dos ombros, era portanto, uma piscina rasa. Além disso, Flavia freqüentava aulas de natação desde bebê e nadava com desenvoltura.

Por volta das 18.30h horas eu fazia qualquer coisa dentro de casa quando ouvi os gritos de Fernando vindos da piscina. Pensei que ele estivesse brincando e preocupada que seus gritos incomodassem os vizinhos, me aproximei da janela da área de serviço, de onde eu avistava a piscina. A cena que vi ficou para sempre gravada em minha memória: Flavia estendida no deck da piscina e Fernando, em desespero, debruçado sobre ela. Chamei por Fernando e ele ao me ver na janela gritou:

- Mãe!!! Flavia.....

Percebi que algo terrível acontecera e sem esperar que Fernando terminasse a frase, desci correndo pelas escadas, os oito andares que me separavam de meus filhos.

Já em pânico, tive dificuldades em me aproximar de Flavia devido ao aglomerado de pessoas em volta dela. Alguém me segurou com força e num tom quase hostil dizia que eu deveria me acalmar. Gritei que ela era minha filha e tentei me desvencilhar dos braços que me seguravam. Quando consegui chegar mais perto, vi Flavia de olhos fechados, imóvel, roxinha. Comecei a repetir para mim mesma:

- Não há de ser nada, não há de ser nada...não há de ser nada....

Infelizmente, o tempo se encarregaria de mostrar que seria uma longa e terrível tragédia e que a partir daquele momento nossas vidas passariam por uma radical e dolorosa transformação.

E continua...

RALOS DE PISCINAS - PERIGO EMBAIXO D'AGUA..

Quando em janeiro de 1998, Flavia sofreu o acidente que a deixou como está até hoje, - em coma, as pessoas se mostravam perplexas ao saber de que forma o acidente ocorreu.

-O cabelo dela ficou preso ao ralo da piscina?! Isto é possível?!

Infelizmente é possível sim. Claro que não são todos os ralos. O perigo passa a existir quando o sistema de sucção da piscina estiver instalado de forma inadequada. É preciso que a potência do motor esteja de acordo, isto é, seja proporcional à metragem cúbica de água existente na piscina, o que nem sempre ocorre. E como o usuário vai saber disso? Não tem como. Esta é uma obrigação dos condomínios que jamais deveriam substituir o equipamento de sucção de suas piscinas, sem a devida orientação técnica. Esta medida simples evitaria o que ocorreu na piscina do prédio onde morávamos - um superdimensionamento do equipamento de sucção, trocado sem a necessária orientação técnica, que lhe deixou com potência excessiva para o local onde fora instalado. É obrigação também dos fabricantes desses equipamentos, fazer constar em seus manuais, informações claras e precisas sobre a instalação de seus equipamentos. É básico. É direito do consumidor.







Como Odele antes do acidente, eu também nunca imaginei que pudesse haver perigo num ralo de piscina. Mas ela pesquisou e, além do menino Thiago, de 11 anos, morador de Manaus, no Brasil, noticiado no jornal O Estado de S.Paulo, do dia 11.04.1999, ela descobriu que alguns casos muito graves aconteceram na França, entre 1994 e 2001. Os recortes dos jornais franceses noticiando esses acidentes foram anexados aos laudos do processo de Flavia. Ela soube de um caso na Grécia, em 2001 e outro em Portugal em 2002, onde crianças também foram vítimas desse tipo de acidente, todos causados por irregularidades no sistema de sucção da água das piscinas. Algumas dessas crianças morreram, outras, ficaram com graves seqüelas. Além dos casos aqui mencionados, ela tem recortes de jornais e revistas com notícias de outros acidentes ocorridos em diferentes partes do mundo, e pelo mesmo motivo - negligência com o sistema de sucção das piscinas.

E tem mais aqui. aqui, aqui, e aqui.



A Odele é incansável na luta pela justiça da filha. Ela criou um blog pra Flávia com objetivos definidos:


O OBJETIVO E O FOCO DO BLOG DA FLÁVIA.



1. PROTESTAR contra a lentidão da justiça brasileira. Minha filha está em coma vigil há mais de nove anos, e há mais de oito aguardo na justiça pela condenação dos culpados pela negligência do ralo de piscina que sugou os cabelos dela, causando seu quase afogamento e deixando-a em coma por todos estes anos.

2. ALERTAR sobre o perigo existente em ralos de piscinas funcionando de forma irregular. Venho documentando no blog de Flavia casos acontecidos no Brasil e no mundo de acidentes com ralos de piscinas, com vítimas fatais ou seqüelas gravíssimas. O que está escrito neste blog, é o relato fiel dos fatos, e mostra o dia o dia de minha filha desde o acidente.

Se você quer ajudar, por favor, divulgue este blog. Para amigos, conhecidos, para a mídia. Gostaria que a exemplo da TV Record, que por causa deste blog fez uma reportagem sobre a lentidão da justiça brasileira, outras mídias mostrassem interesse em divulgar o caso de Flavia. Quem sabe assim, possamos tirar nossa justiça do estado de coma em que também se encontra, e alertando as pessoas sobre os perigos dos ralos de piscinas, quem sabe possamos evitar que tragédias como esta que aconteceu com minha filha, continuem a acontecer, como vêm acontecendo, com outras pessoas, crianças ou adultos.

Muito obrigada.


ESCLARECENDO DÚVIDAS.

ACIDENTES COM RALOS DE PISCINAS, PORQUE OCORREM e QUEM DEVE SER RESPONSABILIZADO.
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No post do dia 31.07 - O OBJETIVO E O FOCO DESTE BLOG - recebi dois comentários de Diana, uma pessoa gentil e delicada, que me pergunta COMO alguém pode saber se o ralo de uma piscina oferece ou não perigo aos seus usuários. Como este blog é público, convido você a ler esses dois comentários de Diana, pois eles contêm dúvidas importantes sobre a segurança no uso de piscinas.

A PISCINA É SEGURA? COMO SABER?
Os usuários de piscinas públicas ou coletivas, não têm saber se a piscina onde pretendam passar seus momentos de lazer, com seus filhos, está ou não em condições de uso ou se vai lhes oferecer perigo. Não têm como saber. Assustador? É. Assustador.

A responsabilidade pela segurança no uso de uma piscina de uso coletivo ou público é, ou deveria ser:

FABRICANTE DO SISTEMA DE SUCÇÃO: (que inclui o ralo) - É preciso INFORMAR em seus manuais sobre a possibilidade de riscos, caso o sistema de sucção seja instalado de forma incorreta. Por exemplo: Um sistema de sucção de potência superior à necessária para o tamanho da piscina, como no caso do acidente ocorrido com Flavia.

CONDOMÍNIOS, CLUBES ou qualquer outro local onde uma piscina seja freqüentada de forma pública ou coletiva: Esses locais têm por obrigação, ou deveriam ter, manter as piscinas em condições de uso, não só no que se refere à higiene, mas principalmente no que diz respeito à segurança. A piscina onde Flavia sofreu o acidente teve, por iniciativa do condomínio - e sem orientação técnica - o sistema de sucção trocado por outro de maior potência – e por causa disso, passando a sugar 78% a mais do que o permitido. O sistema anterior tinha potência de 0,50 cavalos, adequado para o tamanho da piscina de 43m3 de água. Esse equipamento foi substituído pelo condomínio por outro de 1,50 cavalos, portanto com potência inadequada e SUPERDIMENSIONADO para o tamanho daquela piscina. Os usuários de piscinas, principalmente crianças, não têm como saber, da existência ou não desse risco, mas quem for responsável pela venda, instalação e manutenção desses sistemas de sucção SIM!.

Enquanto não houver uma legislação que regulamente a venda, instalação e manutenção de piscinas, principalmente as de uso público e coletivo, os acidentes causados pelo sistema de sucção de piscinas continuarão a acontecer. Enquanto a justiça não PUNIR EXEMPLARMENTE os responsáveis por acidentes já ocorridos, principalmente aqueles em que houve mortes ou seqüelas gravíssimas como no caso de Flavia, como venho documentando neste blog, OS ACIDENTES COM RALOS DE PISCINAS CONTINUARÃO A ACONTECER no Brasil, em Portugal, Grécia, França, Estados Unidos, Rússia....


Como podem ver, a preocupação da Odele é divulgar o blog da Flávia para conseguir justiça e impedir que aconteçam novos acidentes deste tipo. Espero que com essa blogagem ela consiga alcançar seus objetivos.


Hoje, 16 de dezembro, Flávia completa 20 anos e a Odele fez um post,

Parabéns às duas.

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9 comentários:

Unknown disse...

Perfeitas suas colocações. Como fui gerente de um clube em Foz sei da necessidade constante na manutenção de qualquer aparelho ou espaço utilizado por pessoas, crianças ou não.

Assim sendo, no meu post trabalho a idéia que muitas tragédias poderiam ser evitadas se existisse prevenção, nada mais.

Uma ´ótima semana à você

Bjs

O Profeta disse...

É lamentável que estas coisas acontecem e os responsáveis saiam impunemente...


Uma semana cheia de luz


Doce beijo

Odele Souza disse...

Rosa,
Muito obrigada por sua participação na Blogagem Coletiva de Flavia. Muio obrigada por este excelente post.

Fique com nosso carinho.

Anônimo disse...

Rosa,

Acabei de postar e mencionei seu blog. Todas as informações sobre o caso da Flavia e o perigo dos ralos nas piscinas estão muito bem explicadas no seu post. Parabéns!

um grande beijo

Bruna

lgresende disse...

Rosa:
Ótimas colocações. Acho que a blogosfera,mais uma vez, mostrou solidariedade. Ao falar do assunto, a Flávia na certa vai se beneficiar.

Ana disse...

Oi, Rosinha
É tudo tão triste...
O que a Odele está fazendo serve de alerta para que isto não mais se repita...
Teu post ficou muito bom! Li todo o blog dela, hoje de tarde...
Beijão!

Anônimo disse...

Impressionante a história de Flávia. A irresponsabilidade da empresa que instalou o sistema de sucção daquela piscina. Hoje em dia as crianças têm poucas opções de lazer, elas não podem mais sair à rua para brincar e acabam encontrando uma armadilha destas. Há que se obrigar estas empresas a desenvolverem sistemas mais seguros, para que estes acidentes nunca mais aconteçam.

Vou divulgar seu post no meu blog para alertar aqueles que me visitarem. Um abraço

Cadinho RoCo disse...

Considero que hoje, qualquer pessoa que de forma mediana navega por blogs brasileiros na Internet, conhece ou tem noticia do Blog da Flávia. Ainda assim, a justiça permanece com sua vergonhosa lentidão e inércia. É por aí que o Brasil depara com realidade tão estúpida, para não dizer violenta, para não dizer impune, para não dizer desumana, para não dizer corrupta, para não dizer...
Cadinho RoCo

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Prevencao é a palavra.

Grande abraco

 
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