sexta-feira, janeiro 05, 2007

"Mosca na sopa" - Nelson Motta

Sem dúvida a Folha de São Paulo é o melhor jornal, mas raramente tenho tempo de ler, levo uma hora para ler "por cima". O Taba sempre lê e me recomenda os assuntos. Não sou de política e muito menos de ler aqueles textos enormes, por não gostar mesmo, ou por preguiça.

Mas hoje adorei o que o Nelson Motta escreveu: Mosca na sopa.

"Os suplentes de deputado que vão ganhar R$85 mil para não fazer nada no verão, a não ser empregar parentes, dizem que está tudo legal. E para eles deve estar mesmo, legal à beça.. Mas privilégios imorais e indecentes não se tornam mais aceitáveis ou menos odiosos só porque foram transformados em lei, pela ação dos lobbies e dos bandidos da causa própria que infestam o Congresso. Pelo contrário, fazem ainda mais covardes esses "representantes do povo" que se valem das suas próprias leis para roer o nosso dinheiro como ratos. São todos ladrões, metafóricos alguns, mas são.

Como qualquer cidadão de bem, combato essa alta ralé, mas tenho consciência de nossa impotência. De nada adianta os denunciar, desmoralizar, ridicularizar, xingar, processar, esculhambar, sacanear, ameaçar ou mesmo lhes dar bengaladas: eles limpam as cusparadas e fingem que não nos vêem, fogem de nós, mudam de assunto, mas não largam o osso.

E ainda temos de ouvir os políticos semi-honestos e "sensatos" de sempre, sempre no poder, nos advertindo de que é perigoso desmoralizar o Congresso, se é ruim com ele, pior sem ele. Como se estivéssemos condenados a ser mandados e explorados pelos nossos empregados, pelos que pagamos com nosso trabalho para que defendam nossos direitos.

Minha única esperança de vingança é que, numa praia qualquer e sem ter o que fazer, eles leiam essas palavras e, ainda que por instantes, fiquem furiosos e indignados, se sintam incomodados, ofendidos e injustiçados, que rasguem o jornal e me detestem como eu a eles. Que num salão de beleza, com amigas, suas mulheres e amantes leiam e chorem de raiva e, nas suas escolas, diante dos colegas, seus filhos se envergonhem de suas sem-vergonhices legais."

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